Não entre em pânico!

O Guia do Mochileiro das Galáxias

Eu nunca tive muito interesse em ler a série do Mochileiro das Galáxias. Achei que fossem livros chatos e meio bobos sobre um astronauta tirando fotos de ETs ou algo do gênero. Até que encontrei os cinco livros em promoção e tive que compra-los!

"Mas Gustavo, se você não tinha interesse em ler, por que comprou?"

Estava barato, gosto de séries completas na minha estante e as capas são legais... Sim, só por isso.

Comecei a ler (afinal já havia comprado) sem muito entusiasmo, achando que seria uma leitura apenas OK, sem nada em especial. E ai senhoras e senhores, fui pego totalmente de surpresa pelo estilo que Douglas Adams desenvolve sua narrativa, e li: Um. Livro. Atrás. Do. Outro.

Tudo bem, os livros são bem finos e a leitura é muito agradável. Mas sério, o cara é genial! A estória é muito boa com destaque aos personagens que são, no mínimo, totalmente diferentes de tudo que você já leu! Mas o que realmente me prendeu ao livro foi a narrativa. O autor muitas vezes para tudo para dar sua opinião ou simplesmente contar o que vai acontecer no próximo capítulo , e mesmo assim, você se surpreende quando acontece exatamente o que ele disse que ia acontecer. Característica semelhante ao estilo de Lemony Snicket (Autor de Desventuras em Série)

E não para por ai, as descrições são ótimas, assim como as referências. Por exemplo, logo no começo do primeiro volume, para “situar-nos” no tempo, ele diz que a estória se passa aproximadamente dois mil anos após um homem ser pregado em um pedaço de madeira simplesmente por sugerir que as pessoas fossem gentis umas com as outras.

Eu não sei vocês, mas eu gostei demais dessa passagem porque 1) É diferente de qualquer coisa que eu já tenha lido 2) Trata de um assunto totalmente complexo do modo mais simples, claro e objetivo que eu já vi e 3) Isso foi simplesmente o jeito Douglas Adams de dizer “em 2012”.

Falando em passagens boas, vou compartilhar um trecho ótimo (e grande) com vocês onde o autor explica uma das maiores dificuldades relacionada a viagem do tempo.

* Sério, é grande.

“Um dos maiores problemas encontrados em viajar no tempo não é vir a se tornar acidentalmente seu próprio pai ou mãe. Não há nenhum problema em tornar-se seu próprio pai ou mãe com que uma família de mente aberta e bem ajustada não possa lidar. Também não há nenhum problema em relação a mudar o curso da história – o curso da história não muda porque todas as peças se juntam como num quebra cabeça. Todas as mudanças importantes já ocorreram antes das coisas que deveriam mudar e tudo se resolve no final.

O problema maior é simplesmente gramatical, e a principal obra a ser consultada sobre esta questão é o tratado do Dr. Dan Streetmentioner, O Manual das 1001 Formações de Tempos Gramaticais para Viajantes Espaço-Temporais. Nesse livro você aprende, por exemplo, como descrever algo que estava prestes a acontecer com você no passado antes que o acontecimento fosse evitado quando você pulou para a frente dois dias. O evento é descrito a partir de diferentes pontos de vista, conforme você esteja se referindo a ele do seu próprio instante, de uma época no futuro ou de uma época no passado, e a coisa toda vai ficando ainda mais complicada caso você esteja conversando enquanto viaja de um instante para outro na tentativa de tornar-se seu próprio pai ou sua própria mãe.

A maioria dos leitores chega até o Futuro Semicondicionalmente Modificado Subinvertido Plagal do Pretérito Subjuntivo Intencional antes de desistir.”

Enfim (eu disse que era grande), eu achei os livros genialmente engraçados e recomendo muitíssimo essa leitura. Se você estava na dúvida por assim como eu não saber o que esperar da série, prepare-se para dar muitas risadas com situações super improváveis por toda a ‘mistureba generalizada de todas as coisas’ chamada de universo. E acima de tudo, não esqueça sua toalha!